Em 27 anos de história, a Parada do Orgulho LGBT+ de São Paulo já teve muitos momentos marcantes, como a entrada no livro dos recordes e a subversão de uma drag queen que impediu o trânsito de carros da avenida Paulista para dar passagem ao desfile. Relembre abaixo dez momentos memoráveis ou polêmicos do evento.
Em todo o mundo, as Paradas são desfiles políticos que, de um lado, exigem direitos e o fim da discriminação e, por outro, celebram avanços já conquistados pela comunidade LGBT+.
Neste ano de 2024, a Parada de São Paulo, uma das maiores do mundo, espera reunir milhões de pessoas sob o tema “Basta de Negligência e Retrocesso no Legislativo: Vote Consciente por Direitos da População LGBT+”.
A primeira Parada de São Paulo só ocorreu porque a drag queen Kaká Di Poly se deitou no asfalto da avenida Paulista para impedir o trânsito de carros e abrir espaço para o desfile.
Em 1997, o evento foi bem menor do que é atualmente, levando 2.000 pessoas às ruas para protestar contra discriminações e sob o tema “Somos Muitos, Estamos em Várias Profissões”.
Em 2006, com um público de 2,5 milhões de pessoas, segundo os organizadores, a Parada de SP entrou para o Guiness World Book (Livro Mundial dos Recordes) como a maior Parada do mundo.
Em 2008, no entanto, o evento foi excluído da lista por problemas na confiabilidade dos dados. Desde 2019, a Parada de Nova York se tornou, oficialmente, a maior, tendo atingido público de 5 milhões de pessoas em 2019.
O maior público já registrado pela Parada de São Paulo foi o de 4 milhões de pessoas (2011 e 2022), o que mantém o evento como um dos maiores e mais relevantes do planeta na luta por direitos da comunidade LGBT+.
Pessoas de todo o mundo ainda consideram que a Parada de São Paulo é a maior do mundo. Segundo a Secretaria Municipal de Turismo de São Paulo (SPTuris), o evento é aquele que mais atrai turistas para a capital paulista.
A atriz Viviany Beleboni, 35, foi assunto em todo o Brasil ao simular a crucificação dela mesma em cima de um trio elétrico durante a edição da Parada de 2015. Ela apareceu com os seios à mostra e coberta de tinta vermelha, como se fosse sangue.
Ela justificou o ato como uma forma de “representar a agressão e a dor que a comunidade LGBT tem passado” e disse que nunca teve intenção de atacar o cristianismo. A atriz recebeu diversas ameaças naquele ano por causa do protesto.
A série original da Netflix Sense8, que tinha personagens LGBT+ entre os oito protagonistas, gravou uma cena durante a Parada de São Paulo de 2017.
Na época, a série foi um grande sucesso no Brasil e ficou entre os produtos mais vistos da plataforma de streaming no país.
Com a difusão cada vez maior das demandas da comunidade trans entre ativistas, acadêmicos e pessoas LGBT+ em geral, um evento específico dedicado às questões da transgeneridade surgiu em 2018. A Marcha do Orgulho Trans de São Paulo passou, então, a ocorrer sempre em sincronia com a Parada do Orgulho da cidade.
O Brasil é considerado o país que mais mata pessoas trans, levando esse grupo a ter expectativa de vida de 35 anos, segundo dados da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra).
No primeiro ano da pandemia de covid-19, a Parada não pode ocorrer presencialmente pelo alto risco de transmissão do vírus em aglomerações. Por isso, a celebração em 2020 ocorreu online, com a participação de diversos youtubers e influenciadores digitais.
A iniciativa foi criticada duramente pela ativista e drag queen Kaká Di Poly, que reclamou da falta de representatividade e pessoas mais velhas da comunidade LGBT+, que lutam pela causa há anos.
“Além de me esquecerem, também não se viu ou ouviu falar de ícones como Paulette Pink, Divina Núbia, Silvetty Montilla, Miss Biá, que faleceu esses dias de covid, Salete Campari, Tchaka (que teve uma participação mínima, sendo que ela que leva a Parada no percurso Paulista/Consolação no gogó), Dimmy Kieer, Esquadrão das Drags, Márcia Pantera, enfim, são tantos talentos que eu usaria linhas para dar seus nomes”, escreveu.
Em 2022, a cantora Pocah, que participou do BBB 21, foi impedida pela Polícia Militar de São Paulo de terminar o show dela após cantar apenas três músicas quando o trio já passava pela rua da Consolação.
“Os shows começaram a atrasar. Quando chegou a minha vez, o som estava baixo, e eu não estava escutando direito. [Disse que] Só volto a cantar depois que o som voltar. Não cantei nem mais três músicas e meu assessor disse que a polícia pediu pra você encerrar o show porque eles vão encerrar a Parada agora”, relatou a artista em uma live no mesmo dia.
Ela ainda disse que a previsão de encerramento do evento era 18h, mas que ela foi impedida de continuar o show às 17h30.
meu horário era as 15:55, entrei 17:20
Eu estava aqui desde meio dia e meio no trio PRONTA
E infelizmente não pude cumprir nem metade do meu show pq pediram pra encerrar a parada antes do horário combinado!!
peço desculpa aos meus fãs
estou arrasada e cheia de ódio
— pocahs ideia (@Pocah) June 19, 2022
A presença do boneco Zé Gotinha, símbolo da vacinação no Brasil, em um trio elétrico da Parada de São Paulo de 2023 gerou polêmica entre parlamentares federais. Durante o discurso de representantes do Ministério da Saúde, o público vaiou ex-governantes que foram citados.
O boneco recebeu simbologia política nos últimos anos, após o embate entre as pessoas que acreditam na eficácia da vacina e na ciência e negacionistas.
Com a morte de Kaká Di Polly em janeiro de 2023, uma homenagem a ela foi realizada por drag queens na Parada de SP daquele ano.
“Batam leque, batam muito, muito, em homenagem a Kaká Di Poly. Qualquer lugar da avenida Paulista, batam leque, batam cabelo. E nós vamos fazer aquilo que Kaká Di Poly fez em 1997, nós vamos deitar na avenida Paulista. Drag queen, se tem, tem evento. Kaká Di Poly presente!”, comandou uma drag queen usando um microfone.
Kaká foi figura pioneira e icônica nas décadas de 1980 e 1990, considerada lendária para diversas pessoas da comunidade LGBT+ brasileira.
[*] – Fonte: https://www.cnnbrasil.com.br/